sábado, 20 de novembro de 2010

Soren Kierkegaard

fonte: flickr.com

Hoje me aproximei de Soren Kierkegaard. Ele estava debruçado sobre o muro da ponte que passa por cima do canal da existência. Eu o observava por dias. Todos os dias, no mesmo horário o encontrava ali, naquele lugar. Tomei a decisão. Ao me aproximar pensava encontrar alguém afundado em pensamentos cinzentos, pessimista. Minha curiosidade transformou-se em admiração. Chamei por seu nome ao colocar minha mão sobre seu ombro. Virou a cabeça lentamente e então pude ver seus olhos e seu sorriso. O brilho das águas da existência refletiam em seus olhos e pude perceber como aquilo o preenchia, o construía, o movia. Entendi naquele ato a descrição do Eu a partir da dialética descrita em seu livro.

Como seres humanos não estamos prontos nunca e nunca seremos uma forma acabada. Estamos em construção a cada momento sendo a síntese da realidade externa com a realidade interna. Este movimento é constante, presente e inquietante. Se não houver este movimento seriamos meramente reprodutores de ideias e comportamentos. Este movimento dialético, existencial, que habita em cada ser humano causa angústia ou desespero, pois imaginamos o que queremos mas condenados a nunca sermos, pois a idealização é uma isca para caminharmos em direção ao objetivo básico da vida: sobreviver. Quem sabe não é um artifício empregado pela teoria darwinista da evolução, ou seja, precisamos nos adaptar através de fantasias e ilusões para vivermos. É uma hipótese. É uma linha de pensamento que encontra subsídios na biologia, na psicologia e principalmente, na filosofia.
Soren Kierkegaard começou a falar-me no momento que em se virou para mim. Disse-me que a consciência de si carrega uma armadilha com duplo resultado: ou você torna-se cônscio de sí, do desespero que habita em você ou simplesmente reproduz os valores que estão na realidade. A maneira de fazer isto é arriscar tudo aquilo que você é...em consciência, em potência da consciência! Viver sabedor dos limites da finitude mas com um imaginário que permite a infinitude. Eis o desespero, eis a angústia! Saber-se potente ilimitado dentro uma realidade limitada. Esta junção é o desespero, é a angústia! Saber da existência do desespero causa, é incrível, a liberdade da escolha...o olhar mais acurado, uma existência com sentido! Creio que ao atirar-me no rio da existência e me entregar ao seu fluxo poderei exercer aquilo que tenho em potência: Eu e as minhas circunstâncias.

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