quarta-feira, 18 de julho de 2012

velho discurso velho


Há o perigo de olhar o bloco e não as partes que o compõe. De olhar a corrente e não os elos. De olhar a floresta e não as árvores. O perigo de anular a pessoa em nome do coletivo. Me preocupa o exagero dado ao Individualismo. Vejo grupos, pessoas, instituições lutarem, cada um em sua ilha, isolados. O que faz com que cada um lute sozinho? Penso que o caminho natural para criar e manter a identidade, sua consciência, sua personalidade, é o da livre associação. Por que não acontece espontaneamente a livre associação ?

Olho a realidade e ela me informa que o individualismo real sofre os efeitos das leis naturais, aquelas descritas pela Física, Biologia e Psicologia. O Capital entendeu essa observação e cooperou para que o processo de individuação (geração de indivíduos) fosse fragmentada de forma intensa. Isto resulta em estranhamento e por consequência na dificuldade de reconhecer a empatia, o mutualismo e a solidariedade. Como aconteceu com a Torre de Babel no Antigo Testamento, hoje todo mundo fala mas ninguém se entende. O Capital assimilou o individualismo, criou variações do mesmo e depois os apartou em diversas direções sob o  argumento da Liberdade.  Diante deste processo uma certeza me assalta: a solução não está no coletivismo monobloco ou qualquer forma de pensamento que submeta o menor ao maior, como acontece na hierarquia (coletivo versus individuo). Como Nietzsche dizia: todo forma de coletivismo cheira a rebanho.

A realidade é perspectivista por natureza. As Leis da Física endossam esta afirmação. Os primeiros conceitos que fundamentam o perspectivismo se encontram na matéria e na sua relação com o espaço e o tempo. Por exemplo: dois corpos não ocupam o mesmo lugar. Consequência: se duas pessoas (corpos) observam um quadro (espaço) logo teremos duas concepções a respeito do quadro pois estas pessoas estão em lugares (espaço) e tempo diferentes. Esta simples observação permite evoluções lógicas que fundamentarão, mais tarde, o que é um indivíduo. Esta experiência única que exclui os outros, sentida por cada um dos observadores traz o sentimento legitimo de unicidade  onde se manifesta a originalidade necessária a formação da identidade, da consciência. Daí  nasce a individualidade. Da luta para preservar o indivíduo do coletivo nasce a escola de pensamento chamada Individualismo.

O pensamento grego que, em parte, se originou de sua mitologia, possui exemplos significativos da busca de independência do homem em relação ao deuses. Prometeu é um desses exemplos. Entendo deuses como entidades conceituais que emanam diretrizes comportamentais (moral) que pedem em troca obediência. Estes entes (ideias) criados por um pequeno grupo para submeter o rebanho conseguem criar um véu na consciência (indivíduo) dificultando o questionamento e/ou a dúvida, elementos constituidores para a reflexão. Com passar do tempo passamos a obedecer conceitos destas autoridades  introjetadas através da educação servil aos ícones dos conceitos “Pai”, “Deus”, “Estado” e “Patrão”. Toda forma de hierarquia gera autoridade. Eis a armadilha da Pedagogia, da Ciência, da Política, da Economia e da História.


Quando aplico esta lei (dois corpos não ocupam o mesmo lugar) aos veículos de comunicação concluo que suas visões são individuais, derivadas de convenções sancionadas por grupos e entre grupos que tem por objetivo ordenar, organizar e manter a interpretação,  leitura ou orientação que sustente a realidade como a conhecemos. Ora esta lei não pode ser contestada porque sua expressão na consciência humana é verificável. Por exemplo: como sabemos da existência da Matemática ? Através da percepção de si e dos objetos em torno. A milhares de anos atrás quando o homem começou a se equilibrar sobre duas pernas precisou de capacidades de orientação e direção no espaço e no tempo. Estas características, próprias da nossa espécie, estabilizam o caminhar produzindo sensações e percepções, elementos constituidores da consciência. Movimentos simples como levantar, abaixar, pegar, segurar, sustentar, correr, andar, subir, descer e sensações como sentir frio, calor, medo, alegria são elementos que quando interagem com o atributos de espaço e tempo originam percepções. Como sabemos do tempo ? Vendo o movimento do Sol. Como sabemos do espaço ? A partir do lugar onde estamos e dos objetos a nossa volta. Desta relação nascem as operações matemáticas básicas (somar, subtrair, dividir e posteriormente multiplicar). Estas simples observações nos levam a elaboração dos argumentos acima. Argumentos que fundam a visão perspectivista chocam-se com verdades únicas, absolutas, monoblocos de saber, que ainda tentam sobreviver nos veículos de comunicação, na forma de discursos analíticos, análises de conjuntura política, social e econômica, ou seja o olhar que vê o todo como parte. Eis a armadilha. Este erro cria e estimula crenças e valores como, por exemplo, a liberdade do consumo, do trabalho, do status, da produção financeira e econômica. Este mesmo Capital se utiliza dos medos atávicos para manter este processo segregador, fragmentário que deturpa o conceito de individualismo para garantir que o sistema funcione, além de legitimá-lo com a participação do individuo.

Nada garante de que a velhice será confortável já que isso faz parte do subjetivo. Não há proteção contra a falência financeira porque não é possível controle de acidentes, sinistros. A presença do estado policialesco não garante a segurança física. O sistema de saúde não garante saúde pois depende mais de cuidados do próprio indivíduo, ou seja não há garantias. O Capital induz a compras de falsas seguranças. Se você não produz economicamente você não pode ter liberdade. Caso ao contrário você deve obedecer ao que tem sucesso (igrejas, empresas, instituições...conceitos que ordenam a realidade). Se você tenta ir contra estarás excluído dos serviços, tanto do público quanto do privado, você simplesmente não participa. Isto é exclusão.

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