quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Brincando de Gato e Rato (texto escrito em 21.12.2011)

Há momentos em que os pensamentos parecem irradiar uma total consciência das coisas que acontecem dentro e fora de mim. Penso estar entendendo tudo, estou cônscio de mim a ponto de entender o que passa pelos meus sentidos. Uma sensação de poder,  uma pequena potência lúcida prestes a explodir a névoa posta em meus olhos possibilita-me ser mais do que sou. Sou aquilo que penso e penso como aquilo que sou. Nesta construção desconstrução sem fim que dura a minha existência, me refaço, desmorono, ergo-me, brinco, me sujo, me limpo...e nesta dança dos estágios da vida, a vida  brinca comigo, num jogo de gato e rato. Lembro-me do poema cauda de Lewis Carrol...

Disse o gato
        pro rato:
               Façamos um
                       trato. Pe-
                                rante o
                                   tribunal
                                      eu te de-
                                          nuncia-
                                         rei. Que
                                      a justiça
                                se faça.
                          Veja, deixa
                   de negaça,
             é preciso,
       afinal,
     que cum-
 pramos
 a lei.
    Disse o
      rato pro
         gato:
             -Um
                 julga-
                    mento
                     tal, sem
                     juiz nem
                jurado,
             seria um
         disparate.
    -O juiz
   e o jura-
   do se-
   rei eu,
      disse
           o ga-
               to, e
                 tu,
                   ra-
                   to,
                réu
            nato,
          eu com-
       deno
    a
  meu
   pra-
     to.



este jogo de forças da natureza, onde o destino do rato é ser  o prato do gato me levou a  dores de uma gestação...estou prestes a nascer me dando a luz! Novos olhares, novas dimensões, um outro ambiente, uma outra pessoa, uma nova perspectiva...me vejo condenado a repetir a mesma conduta....o novo é uma mentira, nada muda, tudo se transforma no mesmo...um eterno retorno dos mesmos instintos que criam e destroem...Esta força da natureza  que a civilização tenta adestrar e que teve por consequência a crueldade refinada, a indiferença cristalizada, o orgasmo aproveitado como estratégia de cooptação... o uso dos prazeres precisa entrar no campo da ética para tornar-se um legítimo ato de liberdade.   Os instintos possuem poder de tomar e de transformar para satisfazer a necessidade daquele mas, em nenhum momento,  perde seu objeto primeiro, sua essência: a permanência do mais forte da espécie. 

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