sábado, 3 de agosto de 2013

Da Incerteza

Ao olhar para mim vejo que procuro segurança. Nos atos, nas palavras e nos relacionamentos. Sou homem que procura a certeza. Ao descrever esta condição sinto-me estranho porque afronta diretamente a inconstância da minha humanidade. Não posso amar constantemente, como não posso me acovardar a todo momento. Amo e acovardo-me de tempos em tempos. Não há ato mais inseguro do que estar vivo. Uma doença, uma tragédia ou até mesmo um ato bobo como tropeçar pode me matar. Então porque cuidar ou estocar coisas como se fosse viver para sempre ?

Eis um desafio. Descobrir, desvelar o motivo de fazer as coisas. A procura destes motivos torna o quadro geral da realidade visível, inteligível, compreensível. Saber para onde vai é uma grande coisa e não saber para onde vai é sofrimento. Me encaixo na turma daqueles que ignoram o destino. Não sei aonde vou, o que vai acontecer. Estou ao sabor das ondas da vida. Estou aqui, daqui a pouco posso não estar mais. Algumas pessoas diriam que é loucura. Um homem não ter raízes, não ter compromissos que o ancorem na realidade é um ninguém, um passageiro que está proibido de manter relações duradouras.

Neste ponto concordo com Montaigne: “Não é de espantar, diz um autor antigo, que o acaso tenha tanta força sobre nós, pois por causa dele é que existimos. […] Ninguém determina do princípio ao fim o caminho que pretende seguir na vida; só nos decidimos por trechos, na medida em que vamos avançando.” (Ensaios 2, pág, 101 – UNB)

Olho para mim e vejo-me como uma ponte. Pessoas e circunstâncias transitam por mim transformando ambos. Encontro a contradição: tenho certeza que marquei algumas pessoas e algumas situações na incerteza da Vida. As condições que moldaram a vida e as circunstâncias foram resultados de uma equação matemática que resulta em mais de uma milhão de probabilidades e de uma delas gerou a mim. A certeza da incerteza. A permanência da impermanência. A singularidade da matemática e suas múltiplas respostas. A beleza está nesse movimento, no caminho que gera seu oposto, da morte para a vida, da vida para a morte.

Concluo que a certeza é parte do processo e não o todo ou o absoluto. É necessário em alguns momentos ter a certeza para saber da incerteza, como é necessário saber da prisão para saber da liberdade, como é necessário ser pai para entender que um dia foi filho. Neste movimento encontra-se algo mágico e uma leveza inelutável. Como possa aceitar colocar na minha vida um projeto que contemple itens como: economizar dinheiro, acumular bens e manter a família ? Não há como manter um projeto assim. Aqueles que mantiveram tal projeto e o concluíram com a sensação do dever comprido satisfizeram não a si mas a pressão social, ao desejo do sistema econômico que, dentro do período previsto entre o nascimento e a morte de um indivíduo, calcula, racionaliza e engendra meios para manter o indivíduo cego diante da incerteza da vida. Não quero ceder a realidade exterior. Quero buscar sentido para mim e não para os outros. Em um atitude egoísta penso encontrar uma solução coletiva.

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