
Eis um
desafio. Descobrir, desvelar o motivo de fazer as coisas. A procura destes
motivos torna o quadro geral da realidade visível, inteligível, compreensível. Saber
para onde vai é uma grande coisa e não saber para onde vai é sofrimento. Me encaixo na turma daqueles que ignoram o destino.
Não sei aonde vou, o que vai acontecer. Estou ao sabor das ondas da
vida. Estou aqui, daqui a pouco posso não estar mais. Algumas
pessoas diriam que é loucura. Um homem não ter raízes, não ter
compromissos que o ancorem na realidade é um ninguém, um
passageiro que está proibido de manter relações duradouras.
Neste
ponto concordo com Montaigne: “Não é de espantar, diz um autor
antigo, que o acaso tenha tanta força sobre nós, pois por causa
dele é que existimos. […] Ninguém determina do princípio ao fim
o caminho que pretende seguir na vida; só nos decidimos por trechos,
na medida em que vamos avançando.”
(Ensaios 2, pág, 101 – UNB)
Olho
para mim e vejo-me como uma ponte. Pessoas e circunstâncias
transitam por mim transformando ambos. Encontro a contradição:
tenho certeza que marquei algumas pessoas e algumas situações
na incerteza da Vida. As condições que moldaram a vida e as circunstâncias foram resultados de uma equação matemática que
resulta em mais de uma milhão de probabilidades e de uma delas gerou a mim. A certeza da incerteza. A permanência da
impermanência. A singularidade da matemática e suas múltiplas
respostas. A beleza está nesse movimento, no caminho que gera
seu oposto, da morte para a vida, da vida para a morte.
Concluo
que a certeza é parte do processo e não o todo ou o absoluto. É necessário em alguns
momentos ter a certeza para saber da incerteza, como é necessário
saber da prisão para saber da liberdade, como é necessário ser pai
para entender que um dia foi filho. Neste movimento encontra-se algo
mágico e uma leveza inelutável. Como possa aceitar colocar na minha
vida um projeto que contemple itens como: economizar dinheiro,
acumular bens e manter a família ? Não há como manter um projeto
assim. Aqueles que mantiveram tal projeto e o concluíram com a
sensação do dever comprido satisfizeram não a si mas a pressão
social, ao desejo do sistema econômico que, dentro do período
previsto entre o nascimento e a morte de um indivíduo, calcula,
racionaliza e engendra meios para manter o indivíduo cego diante da
incerteza da vida. Não quero ceder a realidade exterior. Quero
buscar sentido para mim e não para os outros. Em um atitude egoísta
penso encontrar uma solução coletiva.
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