Primeiro a conversa. Depois o
efeito da droga. Pronto. Cenário armado para a questão: É possível ser usuário
de álcool e drogas neste mundo? Bukowski me mandaria à merda por ter publicado
esta questão. Apenas sei que as posições são polarizadas. Há aqueles que
defendem o uso de substâncias lícitas e ilícitas. Do outro lado os
proibicionistas, defensores “cleans” que, por sua vez, detêm a moral mais obtusa,
de base religiosa, que a raça humana já criou. O direito de usar o corpo é
prerrogativa daquele que detêm o corpo, ou seja, a própria pessoa, que é corpo
senciente e consciente de si e do mundo que o cerca. A premissa da consciência
por si só fornece elementos para que o indivíduo faça o uso que queira consigo
mesmo. Segundo o Exame
das Funções do Ego (EFE) ou do Exame
do Estado Mental (EEM) se o indivíduo não preencher os pré-requisitos para
diagnosticar uma doença mental que pode ser um déficit cognitivo moderado a
grave, ou estar sob efeito de psicose com delírios persecutórios pode se dizer
que este indivíduo está em condições de tomar decisões sobre sua própria vida
(suicídio, drogas, aborto, alterações radicais de sua anatomia, sadomasoquismo,
etc.).
Pela minha experiência com uso de
substâncias lícitas e ilícitas posso afirmar que nem todos os usuários de
drogas perdem o controle do seu uso, o que é uma característica de uma pessoa
saudável. Por vivenciar e testemunhar
pessoas que conseguiram manter suas vidas em cima dos trilhos fiquei surpreso
ao me deparar com a proposta da abstinência, pensava eu que era saudável.
Prática antiga, milenar, muito utilizada pelos místicos e religiosos a
abstinência chegou ao tratamento da dependência química não pelo convite
construído em cima de uma relação de confiança e sim pela imposição, pela
autoridade do religioso.
A autoridade torna-se malefício
na relação terapêutica porque retira do indivíduo sua capacidade de escolha, de
decisão, de deliberação. Ora o usuário de drogas quando chega ao nível crítico
de sua diagnosticada dependência química ele está apto a percorrer o período de
10 dias de abstinência até o momento em que suas forças sejam recuperadas para
ai usar suas faculdades mentais de forma lúcida e organizada. A decisão do usuário é do usuário. Nas
comunidades terapêuticas não há negociações, acordos ou concessões. Há
autoridade, de cima para baixo, impondo seu olhar de mundo e sua religiosidade.
De 1995 até os nossos dias, não houve mudança.
A pergunta é: um usuário de
drogas pode viver neste mundo sem sofrer represálias ou sem ser julgado
moralmente? Minha resposta: Viverá sofrendo perseguições! Porque os homens
detentores da moral, da virtude e da boa conduta não aceitam a alteração da
consciência sem represálias. Eles não admitem que seja possível encontrar
alegria e felicidade em substâncias químicas ou, até mesmo, sentir a presença
de Deus com alguns miligramas de chá de cogumelo (amanita muscaria) ou ayahuasca. A moral dos
homens brancos é fechada e por isso não podem dançar a luz do luar ou escutar histórias ao sabor de uma fogueira sob o efeito de qualquer substância.
Sim! A Liberdade é tanta que é possível
falar em suicídio, aborto, drogas, alterações físicas radicais, sadomasoquismo
e mais, muito mais. No entanto este
assunto é discutido por bravos guerreiros, por espíritos livres que não cultuam
mais a religião do medo e da autoridade. Os homens que fazem uso do seu corpo
como quiserem estão aptos a percorrer os temas mais escabrosos que a humanidade
cristã não percorre. Eu vejo que a religião ocidental não possui coragem
suficiente para passar por cima de seus credos que, por um tempo, foram
verdadeiros. Talvez aprendam com aqueles
que bebem chás e fumam ervas. Talvez. Mas o orgulho branco não admitiria tal
afronta. O recado foi dado. De qualquer forma enfrentaremos a sua moral e sua “verdade”,
porque temos a nossa verdade e ela é tão forte quanto a sua. Encerro a
conversa porque o branco que me escutava começa a ficar vermelho de
raiva. Aprendi que não se deve discutir
com quem tem raiva. Não há benefício para nenhum dos lados.
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