quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Aborto, Alterações Físicas, Drogas, Sadomasoquismo...ou o que faço meu corpo é problema meu!



Primeiro a conversa. Depois o efeito da droga. Pronto. Cenário armado para a questão: É possível ser usuário de álcool e drogas neste mundo? Bukowski me mandaria à merda por ter publicado esta questão. Apenas sei que as posições são polarizadas. Há aqueles que defendem o uso de substâncias lícitas e ilícitas. Do outro lado os proibicionistas, defensores “cleans” que, por sua vez, detêm a moral mais obtusa, de base religiosa, que a raça humana já criou. O direito de usar o corpo é prerrogativa daquele que detêm o corpo, ou seja, a própria pessoa, que é corpo senciente e consciente de si e do mundo que o cerca. A premissa da consciência por si só fornece elementos para que o indivíduo faça o uso que queira consigo mesmo.  Segundo o Exame das Funções do Ego (EFE) ou do Exame do Estado Mental (EEM) se o indivíduo não preencher os pré-requisitos para diagnosticar uma doença mental que pode ser um déficit cognitivo moderado a grave, ou estar sob efeito de psicose com delírios persecutórios pode se dizer que este indivíduo está em condições de tomar decisões sobre sua própria vida (suicídio, drogas, aborto, alterações radicais de sua anatomia, sadomasoquismo, etc.).
Pela minha experiência com uso de substâncias lícitas e ilícitas posso afirmar que nem todos os usuários de drogas perdem o controle do seu uso, o que é uma característica de uma pessoa saudável.  Por vivenciar e testemunhar pessoas que conseguiram manter suas vidas em cima dos trilhos fiquei surpreso ao me deparar com a proposta da abstinência, pensava eu que era saudável. Prática antiga, milenar, muito utilizada pelos místicos e religiosos a abstinência chegou ao tratamento da dependência química não pelo convite construído em cima de uma relação de confiança e sim pela imposição, pela autoridade do religioso.
A autoridade torna-se malefício na relação terapêutica porque retira do indivíduo sua capacidade de escolha, de decisão, de deliberação. Ora o usuário de drogas quando chega ao nível crítico de sua diagnosticada dependência química ele está apto a percorrer o período de 10 dias de abstinência até o momento em que suas forças sejam recuperadas para ai usar suas faculdades mentais de forma lúcida e organizada.  A decisão do usuário é do usuário. Nas comunidades terapêuticas não há negociações, acordos ou concessões. Há autoridade, de cima para baixo, impondo seu olhar de mundo e sua religiosidade. De 1995 até os nossos dias, não houve mudança.
A pergunta é:  um usuário de drogas pode viver neste mundo sem sofrer represálias ou sem ser julgado moralmente? Minha resposta: Viverá sofrendo perseguições! Porque os homens detentores da moral, da virtude e da boa conduta não aceitam a alteração da consciência sem represálias. Eles não admitem que seja possível encontrar alegria e felicidade em substâncias químicas ou, até mesmo, sentir a presença de Deus com alguns miligramas de chá de cogumelo (amanita muscaria) ou ayahuasca. A moral dos homens brancos é fechada e por isso não podem dançar a luz do luar ou escutar histórias ao sabor de uma fogueira sob o efeito de qualquer substância.
Sim! A Liberdade é tanta que é possível falar em suicídio, aborto, drogas, alterações físicas radicais, sadomasoquismo e mais, muito mais.  No entanto este assunto é discutido por bravos guerreiros, por espíritos livres que não cultuam mais a religião do medo e da autoridade. Os homens que fazem uso do seu corpo como quiserem estão aptos a percorrer os temas mais escabrosos que a humanidade cristã não percorre. Eu vejo que a religião ocidental não possui coragem suficiente para passar por cima de seus credos que, por um tempo, foram verdadeiros.  Talvez aprendam com aqueles que bebem chás e fumam ervas. Talvez. Mas o orgulho branco não admitiria tal afronta. O recado foi dado. De qualquer forma enfrentaremos a sua moral e sua “verdade”, porque temos a nossa verdade e ela é tão forte quanto a sua. Encerro a conversa porque o branco que me escutava começa a ficar vermelho de raiva.  Aprendi que não se deve discutir com quem tem raiva. Não há benefício para nenhum dos lados.

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