Ao
assistir o vídeo sobre Ravi Shankar gravado em Monterey Pop, produzido em junho de 1967, veio a mente a seguinte imagem: ao entrar em um
entreposto de produtos macrobióticos me assusto ao ver o atendente.
Um nórdico, talvez de 2 metros ou mais, com uma toca ou gorra preta
e uma barba que lembra aqueles vikings dos livros de história da
segunda série. Putz! Não é que a insolência europeia ou a marca
do sangue puro não impediu deste homem de escutar e apreciar outras
culturas ?
Porque pensei isso ? Não sei. Desta imagem me veio a de LeonardoBoff e sobre como ele comentava sobre a nossa condição de
colonizado no livro intitulado “A Águia e a Galinha”. Esta
condição que nos sujeita a ideia europeia parece confirmar ou ser
análogo com a imagem que surgiu na minha mente. Porque esta imagem ?
Como ela foi posta lá ? De que forma esta informação apareceu ?
Brasil tem 500 anos. Foi re-descoberto por portugueses, espanhóis,
holandeses, franceses, alemães, poloneses, italianos, etc nestes
anos todos. A produção cultural, identitária da nossa história
como povo teve destaque o elemento europeu. Nossos índios que aqui
estavam antes “dos brancos” tinham sua cultura e, atualmente, está em via
de extinção, a exemplo dos Caingangues,
quase esquecida a não ser pela péssima administração da FUNAI.
Avançamos.
Construímos a imagem de que o Estado produz e legisla sobre o que é
um povo, sobre o que é identidade, enfim, sobre que é brasileiro.
O problema é que o Estado sofre de transtorno de personalidade. A
cada quatro anos o governo busca uma nova identidade cultural. Diante
deste rodízio saudável com efeitos colaterais danosos como, por
exemplo, a ineficácia da transferir para o próximo governo os
projetos que deram certo, a solução está em valorizar a cultura de
cada região, até mesmo de cada localidade, de cada comunidade,
salvando-se assim da hegemonia branca europeia. Tá ai uma resposta.
O
interessante deste exercício de pensar sobre o que pensei, sobre o
que imaginei é que pude dar uma reposta a minha pergunta. Percebi
que esta resposta está embasada em um conhecimento produzido, não
por mim, mas por outros, tanto históricos quanto empíricos. Além
disso percebo que aceitei este conhecimento e o assimilei a minha
vida. Este mesmo conhecimento trouxe-me a possibilidade de pensar a
mim mesmo e delinear uma segunda resposta, diferente daquela
objetivada pela escola que passei. Sou fruto da escola que deposita
conhecimento, um conhecimento que não frutifica, estéril, que não
permite avançar.
Não
adianta querer mudar sem pensar. Preciso saber de mim. Preciso me ver
no mundo onde estou. Reproduzir conceitos, imagens e comportamentos
de forma cega, velada, escondida ou sem saber não pode ser aceita
mais. Já basta de cegueira. Chega desta estupidez licenciada ou
permitida. Isto tudo apareceu ao escutar Ravi Shankar...
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