sábado, 8 de junho de 2013

O que Ravi Shankar, Leonardo Boff e os Caingangues tem em comum ?



Ao assistir o vídeo sobre Ravi Shankar gravado em Monterey Pop, produzido em junho de 1967, veio a mente a seguinte imagem: ao entrar em um entreposto de produtos macrobióticos me assusto ao ver o atendente. Um nórdico, talvez de 2 metros ou mais, com uma toca ou gorra preta e uma barba que lembra aqueles vikings dos livros de história da segunda série. Putz! Não é que a insolência europeia ou a marca do sangue puro não impediu deste homem de escutar e apreciar outras culturas ?

Porque pensei isso ? Não sei. Desta imagem me veio a de LeonardoBoff e sobre como ele comentava sobre a nossa condição de colonizado no livro intitulado “A Águia e a Galinha”. Esta condição que nos sujeita a ideia europeia parece confirmar ou ser análogo com a imagem que surgiu na minha mente. Porque esta imagem ? Como ela foi posta lá ? De que forma esta informação apareceu ? Brasil tem 500 anos. Foi re-descoberto por portugueses, espanhóis, holandeses, franceses, alemães, poloneses, italianos, etc nestes anos todos. A produção cultural, identitária da nossa história como povo teve destaque o elemento europeu. Nossos índios que aqui estavam antes “dos brancos” tinham sua cultura e, atualmente, está em via de extinção, a exemplo dos Caingangues, quase esquecida a não ser pela péssima administração da FUNAI.

Avançamos. Construímos a imagem de que o Estado produz e legisla sobre o que é um povo, sobre o que é identidade, enfim, sobre que é brasileiro. O problema é que o Estado sofre de transtorno de personalidade. A cada quatro anos o governo busca uma nova identidade cultural. Diante deste rodízio saudável com efeitos colaterais danosos como, por exemplo, a ineficácia da transferir para o próximo governo os projetos que deram certo, a solução está em valorizar a cultura de cada região, até mesmo de cada localidade, de cada comunidade, salvando-se assim da hegemonia branca europeia. Tá ai uma resposta.

O interessante deste exercício de pensar sobre o que pensei, sobre o que imaginei é que pude dar uma reposta a minha pergunta. Percebi que esta resposta está embasada em um conhecimento produzido, não por mim, mas por outros, tanto históricos quanto empíricos. Além disso percebo que aceitei este conhecimento e o assimilei a minha vida. Este mesmo conhecimento trouxe-me a possibilidade de pensar a mim mesmo e delinear uma segunda resposta, diferente daquela objetivada pela escola que passei. Sou fruto da escola que deposita conhecimento, um conhecimento que não frutifica, estéril, que não permite avançar.

Não adianta querer mudar sem pensar. Preciso saber de mim. Preciso me ver no mundo onde estou. Reproduzir conceitos, imagens e comportamentos de forma cega, velada, escondida ou sem saber não pode ser aceita mais. Já basta de cegueira. Chega desta estupidez licenciada ou permitida. Isto tudo apareceu ao escutar Ravi Shankar...

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