É estranho e ao mesmo tempo um prazer seguro estar sentindo-se como uma ponte que liga dois mundos, o do usuário de drogas e o mundo daqueles que não usam. É estranho pois estar entre dois pontos, ser uma conexão, recebendo e repassando estímulos de ambos. Isto causa uma sensação de estar suspenso, de estar presente em dois lugares ao mesmo tempo, contrariando uma das leis da física newtoniana e confirmando uma das leis da física quântica. Somente no mundo da imaginação, da criatividade e por consequência numa das expressões mais ricas da capacidade humana, a literatura, é possível pensar, sentir e ver assim. Bem, estes universos ficam localizados na mente, que é uma identidade virtual que possue características e regras próprias. O cérebro, a parte fisica, dá o sustento, o meio e seu funcionamento que é próprio, distinto da mente, interfere naquilo que chamamos mente e esta, na mesma proporção, interfere no cérebro. Esta simbiose permite identificar comportamentos, localizar algumas causas. Isto permite identificar elementos em que podemos compreender o seu funcionamento. Mas há algo que nos escapa, pois onde fica a conexão entre mente e cérebro ? O que faz criar estes universos que se unificam e separam-se ? Digo que é um prazer pois as vivências, o conhecimento e o acaso me estimulam. Busco entender o que acontece e quando mais procuro a ponte torna-se tángivel, cristalizada. O que me torna um de dois mundos, um comunicador, um interpréte, um existente...é ótimo sentir-se no fluxo da existência! Possuir os mais diversos olhares sobre o mesmo tema, trocar este por outro no momento em que os usuários e não usuários utilizam a ponte é confirmar o argumento de Heráclito: o indivíduo que entra no rio não é o mesmo depois que saí dele. O meu prazer é o da mudança, o da transição, da impermanência.
Seguro pois sou partícipe, sou meio que transforma a sí, que em algum lugar há espaço para decisão. A escolha de ser é minha. Esta segurança permite que eu tenha força suficiente para participar, mudar. O que me faz é o que me deixa seguro, onde estar preso por vontade própria (Camões, Sonetos) confirma a escolha de ser livre.
Seguro pois sou partícipe, sou meio que transforma a sí, que em algum lugar há espaço para decisão. A escolha de ser é minha. Esta segurança permite que eu tenha força suficiente para participar, mudar. O que me faz é o que me deixa seguro, onde estar preso por vontade própria (Camões, Sonetos) confirma a escolha de ser livre.
A ponte e aqueles que a utilizam geram um contrato, um vínculo de uso que implica numa troca de informações entre os dois...ou três, pois quando penso na pessoa que passa para um lado logo imagino outra vindo pelo lado oposto. A ponte oferece, para quem se permitir sentir, segurança e a certeza que a travessia se concretizará, colocando no indivíduo a responsabilidade de atravessa-la. O indivíduo deixa suas marcas transformando-a com seus passos, com sua presença, alterando assim o cenário. Esta é a metáfora, a figura poética de um indivíduo que descobriu sua força e lucidez na doença.
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