domingo, 8 de março de 2009

"Notas do Subsolo" de Dostoiévski



Acabei de ler “Notas do Subsolo” de Dostoiévski. Fiquei preso entre a  repugnância e a admiração. Escrito na primeita pessoa o personagem central expressa o desespero em ser quem realmente é. O personagem enxerga o período em que vive como o da falsidade, do mundo das aparências. Dostoiévski retrata a atmosfera política do período czarista de Nicolau I (1846-51) através do olhar de uma pessoa que vive em conflito, angustiada. O protagonista é um funcionário público erudito que se relaciona com as pessoas com superioridade arrogante. Com olhar analítico e hipócrita, parte dos pensamentos que se encerram no subsolo da consciência, local onde se proibe expressá-las. Na  ação o personagem é atrapalhado, ansioso.  Expressa ressentimentos que chegam as raias do absurdo. Nestes casos a maioria das pessoas lutam para manter escondido estes re-sentimentos em prol da educação, das convenções, do empreguinho, do dinheiro. Dostoiévski descreve o conflito interno com o externo com clareza. Sua psicologia é estomacal. Ao buscar o fundo grotesco do ser humano acaba encontrando a verdade. No primeiro capítulo do livro o diálogo ofensivo com supostas pessoas aquinhoadas, de bom porte - que pode ser apenas a sua imaginação – discute a necessidade de esconder o nefasto do ser humano com o objetivo de melhorá-lo. No segundo capítulo o personagem começa sentir a necessidade de ter amigos pois em seu ódio ao mundo decidiu ser um solitário. Toma como projeto resgatar amizades do tempo do colégio e percebe que até neste período seu estado de espírito era hostil. O ápice da história ocorre no encontro com a personagem Liza, que por motivos de miséria, pobreza, insinua que foi vendida para uma senhora chamada Olímpia, dona de um bordel. O desfecho do diálogo, na casa do personagem central, entre ele e Liza, o expõe como um indivíduo reprimido pelas aparências e pela luta para se controlar em não dominar. Eis que vem a salvação: Liza entende a infelicidade do nosso amigo. O entendimento dela o revolta fazendo com que assuma sua parte mais sensível eliminando assim o conflito com a e ducação idealista. Aceita a sua natureza de dominar os outros. Sofre com a paixão momentânea por Liza e clama para que permaneça com ele, entretanto não consegue manter-se apaixonado e humilha Liza. Esta é sua condição como ser humano. Um ser do subsolo que, de forma irônica, denuncia esta face do ser humano como verdadeiro. Será que temos que descer ao subsolo para aceitar o que somos e modificar aquilo que nos incomoda ? Um pouco de autenticidade não faz mal a nínguem.

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