domingo, 29 de agosto de 2010

Jerusa

Jerusa é uma mulher independente. Orgulha-se de sua energia. Mãe, profissional liberal, dona de casa.  Possui dois empregos. Separada a seis anos mantem-se atenta a realidade. Possui uma agenda impecável e consegue guardar mentalmente todos os números necessários para o bom andamento de sua vida. CPF, RG, contas bancárias, datas de aniversários, comemorativas e afins. Confirma o saber popular: -  A memória de uma mulher é afiada como a guilhotina. Rápida e indolor. Controla todas as áreas de sua vida e quando decide não controlar, decide sem  culpa. É incrível como uma pessoa consegue lidar com tudo isso. 

Mas nem tudo é paraíso no mundo organizado de Jerusa. Há falhas. Algumas bobas, outras sérias.  Os amantes costumam se tratar de forma carinhosa e  intensa, expressas em declarações de afetos, tanto públicas quanto na intimidade. Com Jerusa é diferente. Ela não consegue deixar de controlar, de ser mãe ou de trabalhar. Na  hora do beijo olha o celular. - Peraí! Tem um lembrete! O namorado olha. Depois de alguns minutos ela se entrega num beijo lascivo e  molhado.  Tira a roupa, peça por peça. Louco de tesão,  ele começa abrir a calça. Ela acompanha e isto o excita mais. Ouve-se um barulho de uma pessoa caindo no chão e um berro: – O lixo!  Daqui a pouco passa o caminhão do lixo! Atônito o namorado se pergunta porque está no chão. Jerusa corre para organizar o lixo e volta. Encontra a sala vazia. Ela cai em prantos no sofá. Pergunta o porquê. Uma mulher dedicada, organizada não pode ser abandonada desta maneira. É injusto. O celular toca. Um lembrete: - Meu Deus! A podóloga!  Levanta-se e vai para o banho. Arruma-se e retorna para sua vida impecável. Sorri. Sim, a vida continua!

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