Esta mania de desconfiar. É só haver uma coincidência que o circo se arma. Uma palavra suprimida, uma frase hesitante. Um nome dito fora de hora, de lugar. Uma piada. Um elogio desnecessário, uma sensação no estômago e uma queimação nas bochechas. Mal estar instalado e cérebro fervendo. Alguns diriam que estou com ideias persecutórias, outros diriam que esta é uma característica da minha personalidade chamada “paranoide”. Sou assim. Pronto. E agora ? Fico em paz ?
Escrevo para saber distinguir o real da fantasia. Me esforço para que não atinja minhas relações. Por vezes consigo. Em função disso decidi muitas vezes me afastar das pessoas e, muitas vezes, mudei a decisão. Por que ? Porque gosto das pessoas, apesar de não gostar de alguns dos seus comportamentos. Este lado é forte. Frequento reuniões, faço cursos, tenho amigos, namorada, visito meus filhos, leio, de vez em quando cozinho. Lavo minhas roupas. Escrevo artigos, crônicas, poemas e experimentalismos...Acredito que essas atividades mantem minha mente ativa e conectada a realidade.
O que me faz pensar em perguntas como “De que maneira posso intervir no Outro ? De que maneira posso mudar o Outro ? Quais as vantagens disso ?” Não posso. O Outro não sabe que estou a pensar. A desconfiança acontece na minha cabeça. Acontece em mim e não fora. Isto significa que, somente eu, posso fazer alguma coisa. A primeira dela é saber distinguir realidade da fantasia. Faço perguntas e respondo-as. Uma outra ferramenta é não focar no objeto que causa mal estar, não alimentar a desconfiança e ela morre de morte natural ou como se diz por aí: de morte morrida. A mais evidente e poderosa ferramenta é a razão. Instrumento de corte limpo e sem efeitos colaterais a razão te informa o que é real.
Lembro de Epiteto. Ele realiza um exercício simples para o momento em que o medo da morte se manifesta. Dizia ele para sí mesmo: - Onde eu estiver a morte não está! Onde a morte estiver e eu não estiver, nada temerei. Ele também tinha frases para os medos súbitos e desconfiança: - Paus e pedras podem me ferir mas palavras não. E assim sigo o caminho, o meu caminho. Com ajuda dos antigos pensadores, professores, com ajuda de Outros e com a minha experiência. Sou grato por que passaram por isso antes de mim e que eu possa contribuir no alívio e na saúde dos que estão chegando. É isto que importa! É assim que funcioNA!
Um comentário:
Daniel, me identifiquei tanto com teu texto... Se tens ideias "paranóides", como dizes, não és o único neste mundo. Na verdade, penso que o ser humano é realmente um bicho bem complicado de se entender e se relacionar E, fazendo uma lista, realmente são muito poucos aqueles que ficam, que permanecem em nossas vidas como encontros verdadeiros com o passar do tempo. Assim, os filósofos nos acompanham, a mim, a ti, a loucos como nós. E, no mais, resta-nos nós mesmos, permacemos convivendo com nossas próprias companhias, com nossos monstros interiores e as maravilhas que habitam em nós mesmos e, consequentemente, nos isolando (ou não) dos outros seres humanos.
Ótimo texto, teu blog tá excelente
Um abração!
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