segunda-feira, 2 de maio de 2011

Diário de bordo de um taxista em 02 de 05 de 2011 – Satolep, pela manhã, tempo chuvoso misturado a leveza de estar sob ela....

 

Hoje veio a chuva  e com ela os pensamentos sobre as noites em que trabalho como taxista.

[...] Atrás do volante do automóvel vejo bichos estranhos sendo revelados pela luz do farol do meu carro. Alguns caminham sorrateiramente, outros atravessam a rua em risadas, nada estranho, pois não é isso que queremos ? rir, divertir e esquecer ? Eles não podem ver um espetinho de carne de porco com farofa, dizem que dá energia pra aguentar a noite. Os sorrateiros alimentam-se da angustia nervosa e desconfiada. Alguns caminham outros correm, estes olham de esguelha como se estivesse a se cuidar, mas cuidar de que ? Sei, um pouco de poeira branca no céu da boca causa fantasias admiráveis e angustiantes. Pela janela do meu lado esquerdo jovens fêmeas passam pela calçada cantando e rebolando e dizendo e falando quero ficar com você, dar uma fugidinha com você. De 10 a 13 anos de idade e cientes do poder da sedução sobre o bicho macho não imaginam do que ele é capaz quando estimulado até a ultima, elas brincam e brincam, transformam a calçada numa alegria infantil que não se encaixa com o local. Tantos motivos encontro para aquelas jovens estarem ali, mas um se torna evidente, não querem estar em casa. Nesta mesma calçada velhos saem abraçadinhos, como diria minha mãe, um por dentro do outro, com sorrisos estampados na cara, conscientes de que se deve aproveitar o melhor da vida e que dançar é a melhor maneira de homenagea-la. Os jovens machos, com pouco pelo na cara, ensaiam atitudes de dominador, simulam investidas sobre as fêmeas, estofam peitos, xingam seus inimigos, prometem morte na ponta da faca ou no tiro de bala...descubro que a criança continua a brincar nesta idade... lembrei do jovem macho de 16 anos que levou cinco tiros na madrugada de sexta pra sábado (30/31/04/2011)...quando cheguei próximo ao seu corpo ví dois pequenos orifícios na testa, não quis olhar saída das balas...putz...não vale a pena...morreu porque estava com uma fêmea que havia terminado a relação com o atirador há dois dias atrás. Bicho, hora e local errados..É a imaturidade que mata...O axioma desta cena: somos assim...como disse Thomas Hobbes: "Homo homini lupus" (o homem é o lobo do homem) e a moral jamais conseguiu dar conta, aliás, não a queremos[...]

(Legenda da imagem in Ipsis literis) "A imagem acima retrata Licantropos assumindo a sua forma de besta bípede na presença de luar (lua cheia), supostamente e segundo o folclore, alimentando-se e dilacerando corpos que jazem no cemitério devido à escacês de carne fresca". (fonte: http://moonlightbeasts.tripod.com/id2.html)

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