quarta-feira, 25 de maio de 2011

James, Veleda e Anjo

Aviso: este texto é a forma que encontrei para filtrar meus demônios. Cito pessoas reais e por isso é garantido a elas o direito de resposta. A escrita é o método de trabalhar minhas crenças e publicá-las é a forma de filtrá-las. Publicar uma opinião é permitir que outros se posicionem sobre ela fazendo com que ela mude, re-signifique. Eis a essência da liberdade, me colocar diante do Outro.

Cresci em minha cidade ouvindo sobre as aventuras de James Sthal, Sérgio Veleda e Anjinho. Homens do mundo “underground” subvertiam a ordem estabelecida com escritos e ervas santificadas por pretos velhos. Autor de “O Jardim de Tântalo” James representava para mim o poeta irreverente e Sérgio Veleda, auto intitulado “Rupantar”, o místico revolucionário. A presença destas figuras míticas em bares como “Viração” na Osório ou “Misturança” na rua XV de Novembro eram sinais de revoluções musicais, discussões filosóficas e novidades conceituais ao som do trompete ousado do Anjinho, hoje Jahan. Tinha eu 12 anos quando escutei sobre eles. Fiquei com aquela imagem até nossos dias. É claro, não sou ingênuo para sustentar esta imagem por tanto tempo. Sabia que o tempo agiria sobre eles como agiu em mim. Sabia que as mudanças ocorreriam sobre aqueles corpos como aconteceu com o meu. Entendo a mudança como ação benéfica. A mudança é sempre bem vinda em minha vida. Já estive em várias situações contrastantes neste mundo. Dormi na rua, me perdi no uso de drogas, amei o Jazz depois me separei dele. Fui lavador de carros. Entre um carro e outro lia Edgar Alan Poe. Me dediquei aos livros pois estava estimulado por estes seres queridos do mundo underground pelotense: James, Veleda e Anjo.
Como Anaximandro defendia que o tempo é juiz de todas as coisas, hoje, vejo este Juiz cruel colocar estes seres queridos no banco dos réus da minha consciência. Travei contato com estes seres através da internet. Não pude deixar de me decepcionar. Dois deles limitaram suas perspectivas a questões metafísicas e pior, estes mesmos enclausuraram-se em seus mundos. Não aceitam diálogo ou opiniões de fora. Vivem suas vidas de forma egoísta embora combatam o egoísmo. A contradição habita em suas práticas e mesmo assim não a enxergam. Já o autor dos poemas do Jardim de Tântalo confesso: minha admiração foi preservada pela sua intransigência, sinceridade e autenticidade. Apenas um sobreviveu ao julgamento de minha consciência, apenas um ficou na minha história como influência. James Sthal soou em meu ouvido como um Ser autêntico, de opiniões fortes e de gosto musical eclético, com uma forte batida anarquista. Pena que os outros não tenham em seus discursos a prática da tolerância, compreensão e respeito ao diferente. Mesmo assim continuo dedicando carinho e o respeito que merecem, pois ao habitarem o meu imaginário na adolescência permaneceram em minha vida. 
Abraços

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