Amo escritores que se colocam a mostra, que se expõem, que mostram todo o seu ser. Maiakovisk, Nietzsche, Montaigne, Oscar Wilde e Fernando Pessoa, autores e escritores de ideias colocadas na primeira pessoa do singular. Escrever na primeira pessoa é ato de coragem, é colocar cara a tapa. Enfrentar a crítica de peito aberto, sem medo.
Quando sobra grana vou ao sebo. Caminho, olho, vejo lombada por lombada antes de tirar o livro da prateleira. Gosto de títulos. O autor é reconhecido pelos títulos de suas obras. Aliás, os títulos das obras tem como função convidar o leitor a desvendar seu conteúdo. O título, por dever ou necessidade, sugere assunto onde o leitor pode ter uma ideia aproximada.
Hoje encontrei um livro neste molde. “Palavras e Sangue” de Giovanni Papini, traduzido pelo nosso Mário Quintana. Li o primeiro conto. Fiquei curioso. Pensei que era um daqueles autores oriundo da escola católica e suas peregrinações pelo mundo metafísico. Me dei mal. Segui a leitura. Escrito na primeira pessoa o autor, de forma intensa, se expressa de forma íntima e sincera. Descrevia seus movimentos com precisão, suas atitudes nas relações. Lembrei automaticamente de Montaigne, Nietzsche e Maiakovski. Seu estilo orbitava nesta constelação. Comprei.
Cheguei em casa e chamei a Wikipédia para verificar sua existência. Logo após encontrei um sítio de seus admiradores tendo citações de autores como Jorge Luis Borges. Incrivel. Por onde andou este livro ? Porque sua obra está esquecida ? Acredito que seja por seu tom confessional, quase cristão, diante de sua consciência. Este homem, cético por natureza não aguentou a culpa atávica, esta a que Freud descobriu e refugiou-se na religião católica, como Oscar Wilde. Os textos de Wilde carregam sinais e significados cristãos. Talvez Papini tenha seguido o caminho do dândi inglês, talvez não...isto deixo aos investigadores de plantão. O fato factotum é que seu texto é maravilhoso, sincero, cru, sensível, intenso, perseguidor de sí mesmo. Vale a pena ler.
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