O fato de não acreditar em entidades (entes) fez-me tomar uma posição perigosa: ser intolerante com aqueles que professam uma prática idealista. Quando Descartes lançou o conceito psicofísico, a onda dicotômica não saiu mais de moda. Alma e corpo, branco e negro, homem e mulher, pobre e rico, bem e o mal ainda ditam comportamentos. Vivemos dias de intolerância nas ruas e nas mídias apesar de vivermos em Estados laicos .
Juízes proferem sentenças baseados no que Deus fala. Deputados e deputadas discriminam em plenários pessoas que possuem visões de mundo diferentes. Casais homossexuais adotam crianças e são perseguidas pela desconfiança e descrédito. Lésbicas não são toleradas em casas de famílias porque podem influenciar crianças. Negros continuam a ser discriminados nos ambientes de trabalho de forma velada. Palestinos e Judeus continuam sendo vítimas do próprio sistema que criaram. As castas indianas ainda provocam espanto quando mostram o abismo cruel e injusto entre seus indivíduos. O “bullying” saiu do lugar escuro da infância e da adolescência para o espaço aberto e luminoso da mídia.
Se colocarmos estes fatos sob observação veremos que em suas relações há um elo único: o corpo. Cor da pele, a maneira como se tem prazer com o corpo, herança ou característica genética (obesidade, deficiência cognitiva, aparência bizarra, nanismo etc...) todas estas expressões do corpo são violentadas pelo agressor que porta uma ideia a respeito do corpo, que luta contra aquilo que pensa ou imagina a respeito do corpo, sem saber ou sabendo sobre o corpo.
Nazistas da segunda guerra mundial tentaram limpeza étnica. Os negros herdaram um racismo velado que se manifesta na baixa estima e desvalorização nos projetos de vida. A perseguição aos homossexuais é baseado, consciente ou inconsciente, em um valor do sistema judaico cristão, que com autoridade afirma que é abominável a relação sexual entre pessoas do mesmo sexo, ou seja, é um valor negativo, idealizado, não correspondente com a realidade.
Na prática o prazer que resulta da relação homossexual não oferece risco a cultura, a sociedade ou ao Estado, ou seja, fica circunscrito ao universo do casal. Todos os argumentos que sustentam o preconceito de cor, de raça, de gênero são baseados no voto de desconfiança histórico lançado contra o corpo pelos sistemas religiosos judaico cristão, de categoria idealista. É bom lembrar que o idealismo não utiliza prática científica ou empírica para sustentar suas ideias, aliás, a inteligência pragmática não pode ser aceita na defesa de valores absolutos pois utiliza método que não valida o idealismo.
A Ciência não é hegemônica e muitos menos onisciente. A Ciência possui método que na prática tornou-se o melhor caminho para descobrir soluções: o método experimental. É necessário testar várias vezes a teoria para que se possa assumi-la como verdade temporária, quer dizer, até ser substituída por outra. Este método está adequado a ideia de evolução descoberta por Charles Darwin. A Natureza fez tentativas para que o ser humano desse certo. Para chegarmos onde chegamos foi necessário passarmos por etapas da evolução. A Neurociência revela, através da capacidade de adaptação do ser humano, que o ser humano muda e que mudar é bom e faz bem a saúde. Se o indivíduo que resultou do processo de adaptação está feliz e não prejudica a comunidade ou a outro indivíduo então é considerado como sucesso. Diante disso o Capitalismo está fadado a extinção dando lugar ao próximo passo na evolução: a solidariedade entre os povos.
Penso que a melhor atitude que posso ter com a intolerância e com os intolerantes é a de recebê-los com cordialidade, respeito e solidariedade (posso discordar de suas idéias mas isto não quer dizer que estou proibido de prestar ajuda quando necessário!) pois assim, por força da realidade, é possível chegar a solução. A convivência pacífica entre os povos, tão propalada pela ONU poderia ser oriunda de cada indivíduo do planeta e não de uma entidade (ente). Cabe apenas uma decisão e logo a prática desta.
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