A questão sobre o sentido da vida nas discussões entre o ateísmo e a religião está pautada sobre o princípio da Liberdade. O indivíduo tem direito a proteção do Estado quanto a sua integridade física e de consciência. A fronteira que delimita as ações da Igrejas e dos Ateus não é clara. Os Ateus acusam a Igreja de invadir sua vida e de gerir comportamentos que dizem respeito somente ao indivíduo e a sua consciência. De impor sua doutrina e de fomentar perseguições veladas e preconceitos sutis causando danos a sua vida em sociedade (demissões, negação de empréstimos, amizades, família, etc). Do outro lado os Religiosos acusam os Ateus de promoverem valores que limitam a liberdade de crença, de reunião e ofendem o direito de escolha religiosa, promovendo assim o preconceito..
Queixas e reclamações a parte, o que está realmente em debate entre o ateísmo e a religião é a liberdade de escolha do “sentido da vida”. Diariamente vemos indivíduos sendo julgados pela ética de um grupo. O que está em jogo é a presença deste grupo em posições estratégicas dentro da sociedade. Posições que atingem a liberdade do indivíduo. Em uma destas posições encontra-se o da família. Perguntas nascem desta situação: É legitimo que os pais eduquem seus filhos em valores que não permite o questionamento ou até mesmo a desobediência ? A reflexão é ensinado aos filhos ? A liberdade de mudar de posição sem perseguição, preconceito ou exclusão é garantida ? A religião é baseada na autoridade de um livro e/ou de uma figura. Sabe-se que autoridade religiosa não permite questionamentos. Se assim for e se os argumentos aqui expostos forem confirmados, espera-se concluir que a escolha dos pais pela educação infantil religiosa é arbitrária e ilegitima pois afronta o direito de escolha daquele indivíduo em desenvolvimento, isto é, ofende o direito a integridade de sua consciência.
O Estado tem o direito de legislar de forma soberana e livre sobre todos temas com o fito de ter maior clareza e expansão no momento da decisão e para isso deve ser laico, ou seja, sem defender uma idéia religiosa ou de um grupo. Certo é que forças opostas tentarão mover a balança de decisão do Estado. O jogo de forças é natural e necessário para a saúde da democracia. As discussões sobre a existência de Deus ou não estão encerradas e fazem parte do círculo particular dos indivíduos e de suas questões existenciais. O que torna necessário e evidente é a proteção do processo de avaliação e decisão. Trago um exemplo não muito semelhante para aclarar a ideia que desenvolvo aqui. Em um Tribunal do Júri, uma série de pessoas escolhidas aleatoriamente na sociedade é convidada a participar de uma banca que irá decidir pela inocência ou culpa do julgado. Para tomar esta decisão o grupo é convidado a passar dois dias sem contato com o mundo externo, sem contato com as partes envolvidas (acusação e acusado) para que tenham a maior liberdade possível para decidir. É deste momento a qual me refiro. Por analogia o Estado deve prover este ambiente livre de pressões externas e internas para o que indivíduo possa escolher de forma saudável seu caminho, se deísta ou ateísta. Para a manutenção da democracia e para sua saúde é imprescindível defender a autonomia do indivíduo através da integridade de sua consciência.
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