quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

A Guerra de Daniel

Daniel procura por Deus nas entrelinhas da realidade. Procura por entre nuvens de matéria a presença de uma inteligência que responda suas questões profundamente angustiantes. Nada poderá libertar este pequeno homem de sua obsessão ? De onde virá a salvação ? Dos livros ? Do Amor ? Ou da Inteligência que busca a verdade como ela é ?

O absurdo de tudo é que Daniel está preso na trama de preguiça e fuga. Em qualquer instância seu enfrentamento é evasivo. Procura não se responsabilizar pois o medo de não conseguir cumprir o aterroriza. Covarde, fica horas preso nos prazeres animais e químicos a procura de uma resposta que o liberte da opressão de ser humano, do conflito entre o Dever Ser e o Ser.

Nesta angústia procura em Platão a resposta e encontra motivo para este sofrimento: sou uma alma que vive a aventura de ser humano com a intenção de superar defeitos e ampliar as qualidade. E qual o objetivo ? De me aproximar ao máximo do ideal de Bem e Felicidade

Não satisfeito Daniel não aceita a dicotomia entre alma e corpo, mente e cérebro, instinto e psique. Não! Resolve atacar de frente com os pensadores da natureza e aceitá-los de maneira cega,  rebelde.  Entende que é a forma de agredir todos os pensadores que dividem a realidade entre a física e a metafísica. Encontrei em Nietzsche o “corpus” necessário para compreender que a natureza foi amplamente atacada, colocada sob suspeita e dedicadamente docilizada por ideias não confirmadas na realidade. Resultado: vivemos uma distorção daquilo que pensamos. Pois o que pensamos jamais será completo, inteiro, íntegro, pois sua efetividade não pode ser cumprida.

Esta discussão é antiga. Aquilo que devemos viver contra aquilo que somos. Ideias metafísicas transformaram e transformam o corpo em escravo, educado, adestrado. Não por muito tempo. Através da história encontramos corpos revoltados a exemplo dos reformistas heréticos, dos   libertinos. A literatura também denunciou a violência das Igrejas contra o corpo criando o gênero literário chamado “aphrodisia”.  Estes autores e pensadores reivindicaram o direito ao prazer e a autonomia para escolher a forma de sentir prazer. Não poderiam e não podem admitir que o Estado,  Igreja  ou Moral legisle sobre seu prazer, ato íntimo portanto individual. 

Daniel carrega esta rebeldia. Esta força que critica, pesquisa, que não aceita a obediência cega, portanto, burra. Mesmo assim carrega um problema: sua dificuldade em pensar dialeticamente, através de argumentos organizados, ordenados e inferidos. Daniel possui intensidade nas emoções quando trata de temas como rebeldia. Sua paixão por estes pensadores oposicionistas que chacoalham a moral, a ciência e a religião vigentes. Pensa que este “modus operandi” não cabe mais neste fase de sua vida. Tem quarenta anos e age como tivesse vinte. Ele busca uma “Wendy” que irá resgatá-lo da Terra do Nunca e da sedução de Peter Pan.

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