quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

A função do taxista é a de ouvir ?

Inevitável. O passageiro embarca no carro e a mágica acontece. Começa a relatar sua vida. Histórias angustiantes, alegrias plenas e descobertas significativas. O motorista ouve e as transformações se sucedem dentro dele. A última história fez com que a ideia de mundo ficasse mais leve e bonita, elevando a esperança. Começa assim:

Atendo a chamada e quando chego no local determinado me assusto pois cinco mulheres invadem o carro. Risos, piadas e reclamações daquelas meninas indicavam o final do expediente. Recebo orientações da mais velha. Revela que são profissionais do sexo. Minha missão. Primeiro: largar a mais velha em casa. Segundo: Levar uma profissional até o endereço X,  receber o dinheiro do seu programa, se possível garantir sua segurança física e após buscá-la. Terceiro: levar as três restantes para onde quiserem.  Fiquei feliz. Ao chegarmos no endereço apontado vejo que a menina que irá trabalhar está nervosa. Tento ser agradável  e dou o número do meu celular com intenção de deixá-la segura. O programa está previsto para duas horas mas ela quer que eu chegue meia-hora antes do término. Sorrio e digo que estarei na frente da residência o quanto antes. Após entregar este menina  no endereço, receber o dinheiro e entregar o valor para outra menina levei-as para os endereços apontados pelas mesmas. As três sentadas no banco de trás do carro começam a conversar entre sí sobre seus clientes sem apontar suas identidades. A do meio começa:

- Hoje um cliente me pediu para fazer o programa com ele sem preservativo! Credo! Não posso. Como queres sem camisinha se tu não sabes o que eu faço ? Ele insistia então disse pra ele que se conseguir endurecer sem a camisinha podemos fazer mas se não, vai de camisinha. Fico pensando nas situações entre quatro paredes que estas meninas passam. A da ponta berrava:

 - Mas de jeito nenhum deixo colocar aquele pinto em mim sem fardamento. Não faço o programa. A terceira replicou:

- E eu ? O cliente pediu pra que eu chupasse ele sem camisinha. Não faço. De jeito nenhum. Sou uma garota de programa e tenho que me cuidar. Aos escutar estas falas a minha curiosidade bateu e larguei essa:

 - Meninas, se um cliente quiser praticar sado masoquismo ?  Silêncio.

 - O que é isso moço ? pergunta a do meio.

Expliquei. Chicote, roupa de couro, submissão, humilhação, espancamento, etc...Então escuto:

- Que horror! Não faço isso! Que bom que a maioria dos meus clientes são carinhosos. Tem um e outro que se passam. Puxam o cabelo, dão tapas na minha bunda. As outras meninas saltaram em defesa da primeira

 - Verdade! Tem um e outro que se passa. Já interrompi programa e devolvi dinheiro quando começou a me bater. A terceira menina lembrou:

 - Vocês já pegaram aquele cliente, o tal comissário de bordo ? Todas respondem: Jááááá!!!! Ele é horrível, nojento. Tenho pavor quando ele aparece. Continuaram por todo o percurso a apontar qualidades e defeitos de seus clientes. Entreguei todas meninas em seus respectivos lugares e fiquei pensando naquela que está no trabalho. Foi inevitável pensar: - Será que ela está bem ?

Após 45 minutos parava o carro na frente da residência onde estava a menina. Em seguida o celular toca. Era ela. - Já estou aqui na frente, digo. Sua voz parecia tranquila. Logo em seguida escuto abri a porta da frente da residência. Ela sai.  Estava impecável. Parecia que não havia nem sequer tirado a roupa. Perguntei: 

- Ele te tratou bem ?
- Porque pergunta ?
- Percebi que estavas nervosa antes de entrar.
- Ah! ela encosta a cabeça no meu ombro e solta uma risada, - A gente se surpreende! Sim estava nervosa pois tinham me avisado que ele bebia muito. E que gostava de mulher liberal. Me assustei. Não sabia o que ele ia fazer. No final das contas não fizemos nada.
- Nada ? 
- Sim! Ficamos conversando todo este tempo. Nem tirei a roupa.  Sabe, estou nesta profissão a pouco tempo e estou percebendo que a maioria dos clientes querem mais atenção e carinho que qualquer outra coisa. Tem aqueles que querem baixar as calças e fazer direto. São poucos. Mas tem. É desses que preciso me cuidar.
Então faço uma observação: - Sabe, acredito que as mulheres não conhecem os homens. Os homens precisam da ilusão que estão sendo amados, simulando ali um namoro, uma companhia.
- Não sei, ela disse. Sei que me surpreendo cada vez mais com a solidão das pessoas, da sua tristeza.

 A  levo para o local indicado. Fico pensando que a profissional do sexo traz para o indivíduo o pouco da alegria que ele não conseguiu ter. Mesmo que seja por pouco tempo, aquele tempo  é uma gota que faz com que impeça que ele se destrua. Minha esperança na humanidade renasceu daquela conversa em diante. Ainda bem que o sexo é sinônimo de bem estar, de saúde, de alegria e de realização de fantasias. É pena que ainda temos demônios que nos impedem de aproveitar o melhor do sexo. Mas temos nossos antídotos.

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