domingo, 19 de julho de 2009

os limites da auto-determinação




Ontem confirmei o que desconfiava a muito tempo: devo escutar meus instintos. Ví o livro na estante da livraria e o título chamou-me atenção. Fui tomado de assalto quando iniciei a leitura. Limpo, preciso, sutil nos detalhes. É impressionante que um polônes pudesse dominar a lingua inglesa dessa maneira. Levou-me a olhar os limites dos sonhos, das fantasias e de como estou constantemente em perigo. Bom, viver é perigoso.

Quatro contos, quatro limites.

Maravilhosos limites trágicos. Estes limites carregam o seu oposto. Como a história de um velho aristocrata que caminha por Nápoles, sem muitas ambições, aproveitando a tranqüilidade de sua velhice patrocinada pela herança de seus pais. Tranqüilidade esta que durou até o dia que em foi assaltado por um homem elegante, educado e que mais tarde descobriu que o tipo era estudante de uma Universidade e membro da Camorra, um tipo de máfia da região. Como é possível um indivíduo semelhante, um aristoi, um cavalheiro, cometer tal sacrilégio? Não se está protegido nem por sua classe. O medo torna-se uma constante. Eis uma expressão do limite da autodeterminação.

Em uma fazenda para criação e abate de gado, perdida em meio ao nada, habita um capataz escroto que, por ingênua convicção, defende sua empresa. Nesta situação encontramos o personagem do conto O Anarquista, submetido ao capataz por livre escolha. Eis o caso em que o medo nos põe a opção de querer aprisionar-se. Neste conto nasce a idéia de que é impossível escapar dos acontecimentos, das circunstâncias e dos outros. Nosso persoangem então narra sua aventura de como acabou aprisionado de forma tranquila em uma fazenda que investe fortunas em propagandas. No auge de uma bebedeira o personagem principal solta suas amarguras como trabalhador numa frase impetuosa e ofensiva: Vive la Anarchie!!! E bêbado acaba atrás das grades. Encontra pessoas que o acolhem e o confortam. Logo em seguida nosso trabalhador encontra-se envolvido em assaltos e atentados a bomba. Julgado e sentenciado a prisão logo em seguida foge no momento de um motim. Por circunstâncias estranhas dois camaradas acabam dividindo o barco na fuga. Nesse momento os limites da autodeterminação se expressam através do ódio, da vingança para logo, em seguida, a realidade tornar-se opressora, hostil e perseguidora. O medo instala-se e torna-se sua base. Ou seja, a base da docilidade, da aceitação e do enfraquecimento da força vital do indivíduo...

Eis o trágico irônico de Joseph Conrad. Coloca seus personagens nos limites de suas convicções e nos mais humano limite confundem-se, o que traz a tona a linha fina, tênue entre a convicção e a realidade. Nosso mundo é muito mais que realidade e por horas a realidade é muito maior que nosso mundinho... Salve Conrad por jogar pouco de lucidez na loucura das instituições e na defesa de suas convicções....

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