Considero avanço quando
podemos discutir valores que versam sobre morte e vida. Posso afirmar que atingimos um nível
de liberdade (quer Estado, Religião, Crença ou não) onde a discussão racional
está em primeiro lugar, ou seja, que lutar por seus interesses está
em primeiro lugar. Atingimos o estágio do debate, das assembleias, da construção
do diálogo através do diálogo. Não somos mais impingidos, obrigados, manipulados a obedecer a
preceitos e/ou valores externos cegamente. Podemos escolher. Eis o supra-sumo
do ambiente democrático. Podemos medir a
maturidade de uma sociedade através das discussões e de suas reações a temas
polêmicos. Diante disso quero discutir a diferença entre suicídio e eutanásia.
Suicídio é o ato de tirar a
própria vida. As motivações que levam um indivíduo a tirar a própria vida e a
legalidade de tal ato não será abordado neste texto. Motivações e legalidade merecem maior atenção em um outro momento. O que significa, dentro do
contexto social, econômico e familiar, tirar a própria vida? A primeira consequência
é a ausência. Esta ausência causa sofrimento afetivo tolerável e não muda drasticamente
a vida das pessoas próximas. As pessoas próximas do suicidado seguem suas vidas
e o ato derradeiro fica marcado como lembrança, como sofrimento tolerável,
tratável e de teor ressignificativo. A segunda seria a questão material ou
econômica. Quando este indivíduo tem peso ou responsabilidade pelo sustento da
família, o dano pode ser maior. No caso contrário, não há dano. O dano
material (deixar de sustentar a família) pode gerar sofrimento emocional
secundário o que força uma adaptação, a busca de um nova forma de sustento, de novas fontes de
renda, adaptações necessárias daqueles que sobrevivem ao
suicidado.
A eutanásia é o ato de tirar a
própria vida quando o sustento da vida torna-se sofrível e intolerável. Essa é
a visão médica. Essa visão responde a pergunta se aquele organismo pode viver
com alguma dignidade e sem sofrimento. Se a resposta for negativa a escolha
pela eutanásia torna-se a única opção digna. Para chegar a esta situação o
candidato a eutanásia já passou por muitos e variados tratamentos que não
resultaram na sua melhora.
O que diferencia o suicídio da
eutanásia? O primeiro pauta sua decisão de tirar a vida na sua própria experiência,
ou seja, na sua relação com a dor e o sofrimento. O segundo tem ajuda profissional
para chegar a esta conclusão. O primeiro tem maiores chances de cometer um
grande erro e segundo a menor chance de tomar a decisão errada. Ambos
sofrem. Pergunta-se pela diferença entre o sofrimento psicológico e o físico e
a resposta a que chego: nenhuma. Ambos ocorrem no corpo e mente. Ambos são de
proporções intoleráveis. Ambos são angustiantes. Ambos limitam a
operacionalidade social, econômica e afetiva. Quando estas áreas não são
correspondidas, quando as expectativas medianas não são atingidas pergunta-se se essa pessoa está disfuncional. Ela própria percebe que está causando mais
sofrimento a si e aos outros, então, a escolha de tirar a própria vida ganha solidez.
Entendo que é necessário
acompanhamento profissional até mesmo para tirar a própria vida. O maior perigo é o de praticar o suicídio sozinho, pois a
incidência de sofrimento é maior para os que ficam vivos. Coloco-me a favor de uma legislação que
favoreça a eutanásia ou suicídio assistido. O direito de por fim ao sofrimento
é avanço dentro de uma sociedade democrática.
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