quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Pelo direito de morrer. Eutanásia ou suicídio ?



Considero avanço quando podemos discutir valores que versam sobre morte e vida. Posso afirmar que atingimos um nível de liberdade (quer Estado, Religião, Crença ou não) onde a discussão racional está em primeiro lugar, ou seja, que lutar por seus interesses está em primeiro lugar. Atingimos o estágio do debate, das assembleias, da construção do diálogo através do diálogo. Não somos mais impingidos, obrigados, manipulados a obedecer a preceitos e/ou valores externos cegamente. Podemos escolher. Eis o supra-sumo do ambiente democrático.  Podemos medir a maturidade de uma sociedade através das discussões e de suas reações a temas polêmicos. Diante disso quero discutir a diferença entre suicídio e eutanásia.

Suicídio é o ato de tirar a própria vida. As motivações que levam um indivíduo a tirar a própria vida e a legalidade de tal ato não será abordado neste texto. Motivações e legalidade merecem maior atenção em um outro momento.  O que significa, dentro do contexto social, econômico e familiar, tirar a própria vida? A primeira consequência é a ausência. Esta ausência causa sofrimento afetivo tolerável e não muda drasticamente a vida das pessoas próximas. As pessoas próximas do suicidado seguem suas vidas e o ato derradeiro fica marcado como lembrança, como sofrimento tolerável, tratável e de teor ressignificativo. A segunda seria a questão material ou econômica. Quando este indivíduo tem peso ou responsabilidade pelo sustento da família, o dano pode ser maior. No caso contrário, não há dano.  O dano material (deixar de sustentar a família) pode gerar sofrimento emocional secundário o que força uma adaptação, a busca de um nova forma de sustento, de novas fontes de renda, adaptações necessárias daqueles que sobrevivem ao suicidado.

A eutanásia é o ato de tirar a própria vida quando o sustento da vida torna-se sofrível e intolerável. Essa é a visão médica. Essa visão responde a pergunta se aquele organismo pode viver com alguma dignidade e sem sofrimento. Se a resposta for negativa a escolha pela eutanásia torna-se a única opção digna. Para chegar a esta situação o candidato a eutanásia já passou por muitos e variados tratamentos que não resultaram na sua melhora.

O que diferencia o suicídio da eutanásia? O primeiro pauta sua decisão de tirar a vida na sua própria experiência, ou seja, na sua relação com a dor e o sofrimento. O segundo tem ajuda profissional para chegar a esta conclusão. O primeiro tem maiores chances de cometer um grande erro e segundo a menor chance de tomar a decisão errada. Ambos sofrem. Pergunta-se pela diferença entre o sofrimento psicológico e o físico e a resposta a que chego:  nenhuma. Ambos ocorrem no corpo e mente. Ambos são de proporções intoleráveis. Ambos são angustiantes. Ambos limitam a operacionalidade social, econômica e afetiva. Quando estas áreas não são correspondidas, quando as expectativas medianas não são atingidas pergunta-se se essa pessoa está disfuncional. Ela própria percebe que está causando mais sofrimento a si e aos outros, então, a escolha de tirar a própria vida ganha solidez.

Entendo que é necessário acompanhamento profissional até mesmo para tirar a própria vida. O maior perigo é o de praticar o suicídio sozinho, pois a incidência de sofrimento é maior para os que ficam vivos.  Coloco-me a favor de uma legislação que favoreça a eutanásia ou suicídio assistido. O direito de por fim ao sofrimento é avanço dentro de uma sociedade democrática.

Nenhum comentário: